Comparação: Capa de Livro Original vs Capa de Livro inspirada no Pôster do Filme

Como próximo assunto para um texto no blog, resolvi destacar algo que gera discussão nas redes sociais. A comparação contínua entre capas de livro originais x capas de livro baseadas na adaptações cinematográficas.

Não é difícil entrar numa livraria e encontrar o mesmo livro com uma dezena de capas diferentes. Os mais desapercebidos podem até não prestar atenção, mas basta reparar que aquele mesmo volume que tinha a capa sem graça ganhou cores e a cara do protagonista estampada.

Vou usar como exemplo a história de “O Mar de Monstros”, segunda da saga Percy Jackson e os Olimpianos, que conta a história da mitologia grega revivida por jovens norte-americanos. Na imagem abaixo, pode-se comparar as duas capas originais nos Estados Unidos, que são semelhantes à versão brasileira. O livro original é o da esquerda e a edição especial, a da direita. As duas capas foram feitas especialmente para o livro e mostram cenas que realmente aconteceram na aventura. Em ambas, o vilão ciclope Polífemo está presente, assim como o protagonista Percy em uma miniatura. Acho a segunda até melhor, mostra os monstros a que o título se refere, como a Hidra de Lerna e Caríbdis, não desmerecendo o livro.




Logo abaixo, está a foto da Graphic Novel, que também demonstra uma cena da história. Mas o real incômodo está por vir.



O que muitos fãs reclamam, e na maioria das vezes eu sou obrigado a concordar, é a adaptação de um filme retratar a capa de um livro. Vou começar apontando os pontos negativos, para depois “amaciar” para o lado das capas adaptadas.

Os filmes em sua maioria, possuem diferenças gritantes dos livros. No caso de “O Mar de Monstros”, a adaptação foi incrementada após uma sequência fracassada de “O Ladrão de Raios”. A história do livro tem heróis na faixa dos 13 anos, enquanto no filme eles já têm 16/17. Para quem for ler o livro e imaginar que as personagens são iguais às retratadas na capa, vai ficar confuso.

Fora que há detalhes divergentes na descrição apontada pelo autor Rick Riordan. Annabeth, a menina da capa, é loira. Alexandra Daddario, atriz que interpreta o papel da semideusa apenas tingiu os cabelos no segundo filme. Grover, o sátiro ao lado direito de Percy, não é negro na versão literária.




E quem assiste o filme e lê o livro depois percebe a diferença. O enredo também é totalmente alterado, o vilão que deveria ser enfrentado apenas no quinto filme, Cronos, já dá o ar de sua graça numa lutinha com efeitos especiais exagerados contra os gregos. Luke, outro vilão, revela o nome de traidores que só seriam descritos no quarto e no quinto livro em pleno segundo filme. Foi um spoiler totalmente desnecessário para quem preferiu assistir ao filme primeiro.

É claro que a capa do livro adaptada com o cartaz do filme tem suas vantagens. Atrai a pessoa que assistiu a película à leitura, ela faz a ligação que o filme bacana que ela viu no cinema tem mais conteúdo naquelas páginas que antes não lhe chamavam atenção.

Segundo ponto positivo: o novo acabamento. É bem mais caprichado, cores mais vibrantes e com menos cara de vômito. Uma sinopse mais dinâmica e revisão textual também contam como vantagem.

Agora, Percy Jackson tem lá suas diferenças, mas não chega a ser algo agravante que mude os rumos e o tema da história. Tenho um exemplo bem pior para mostrar. A famosa animação dos cinemas, Como Treinar o seu Dragão, terá o seu segundo lançamento nesse mês nas telinhas de todo o Brasil. Porém, em termos literários, estamos acompanhando Soluço e seus amigos na décima primeira edição.



Na história, o menino Soluço é um fraco ruivinho sardento que não tem padrão e coragem para se tornar um autêntico viking. E para piorar, seu pai é Stoico, o Imenso, o líder da tribo dos Hooligans. Até aí, as duas histórias são iguais. Mas o resto é completamente diferente. No filme, Soluço é mais atlético, popular e voraz. Ele faz amizade com o grande dragão, e raríssimo por sinal, Fúria da Noite, que é apelidado como Banguela. O monstro dispara uns raiozinhos luminosos e possui dentes que se escondem pela gengiva.

Já no livro, Soluço é ainda mais franzino e mais rejeitado pelos vikings. É bastante bondoso e criativo, mas não chega aos pés do protagonista do filme. Soluço tem habilidades com esgrima e sempre encontra os piores dragões do mundo. Além disso, possui a capacidade de falar dragonês, idioma que só as criaturas entendem. Já o Banguela do livro, tem o tamanho de um cachorrinho de madame e é verde-musgo. Mais medroso do que o próprio garoto viking e bem espertinho e arteiro. Ao decorrer dos livros, o leitor percebe um tom mais humorístico e leve. E com desenhos rabiscados e grotescos, é algo perfeito para o público infantil. Eu confesso que li o livro após assistir o filme, e pela primeira vez, gostei mais da animação.


Certo, agora vamos à adaptação. Com o lançamento do segundo filme, temos uma capa bela e diferenciada com um Soluço de 19 anos (cerca de seis a mais do que o Soluço da primeira animação e dos dez livros). Aí está o primeiro erro: se o protagonista dos livros está na pré-adolescência, o que dizer do já adulto na capa? O imaginário do leitor não se atrapalha nesses momentos?


Outro ponto notável, este é o pôster do segundo filme, mas não é o primeiro livro que foi adaptado. Será que alguns leitores não vão comprar achando que é uma sequência, no caso, o livro Como Ser um Pirata? É claro que o trabalho de arte da Editora Intrínseca ficou excelente, não o desmereço. Mas paira a dúvida no ar, as crianças e jovens não ficam confusos com as adaptações?

Há outros livros famosos que tiveram essa adaptação, A Menina Que Roubava Livros em Janeiro, e o novíssimo filme que foi lançado na semana passada: A Culpa é das Estrelas, por exemplo. Outros livros famosos são O Hobbit, Amanhecer e Eu sou a Lenda. É claro que a tendência é que essas adaptações sejam feitas com mais frequência nos próximos anos, entretanto, é necessário destacar as diferenças claras entre filme e livro para não causar uma desilusão nos novos leitores.

~Murilo Mud

*Todas as imagens foram tiradas de sites oficiais, americanos ou autorais pelos bloggers do Trilógicos.

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