E aí leitores, como vão? Tentando manter a média pífia de um post por mês, venho aqui falar a respeito de uma das sagas que está me deixando cada vez mais ansioso e feliz no mundo pop em que vivemos. Não é uma série, e muito menos um filme, mas sim um mangá e anime. Não é porque a história é feita em volumes em preto e branco que lemos de trás para frente que necessariamente deve ser descartada de nossas opções, muito pelo contrário. Essa hegemonia cultural em que vivemos (e que só tende a crescer) expande o universo de fábulas, contos, tramas e dramas ao infinito e além. Justamente por isso, a publicação do gênero no Brasil, como bem dito no UOL no domingo, atinge a sua maior maturidade e propõe uma gama enorme nas livrarias e bancas de jornais, para todas as idades. E graças a esse amadurecimento, aqui está uma sugestão de obra que vai muito além dos já conhecidos Dragon Ball e Naruto.
Fonte: www.eurogamer.pt |
O quarto mangá mais vendido de 2015 no Japão, que só perdeu seu posto para o clássico One Piece, o também ascendente Nanatsu no Taizai e a febre nipônica de Attack of Titan, tem como roteiro uma situação bizarra, porém perspicaz. Um estranho ser alienígena, que lembra muito um polvo amarelo humanoide, destrói metade de nosso satélite natural: a Lua. Os governos de todo o mundo entram em pânico e tentam a qualquer custo acabar com a ameaça extraterrestre. Praticamente invencível, o sarcástico de oito tentáculos propõe um acordo com os líderes políticos do Japão (por que é o país dos mangás, né). A única chance que eles têm de matar o monstrengo é por meio de uma turma de estudantes da pior classe de um dos colégios mais renomados do país. Ele será o professor e tutor deles durante um ano, de abril a março do ano seguinte, se eles conseguirem acabar com ele, ganham uma grana enorme, mas caso a turma não consiga assassiná-lo, ele destruirá a Terra.
Apesar de estranho para quem começa lendo, a trama se mostra surpreendentemente empolgante. A classe escolhida não necessariamente possui somente delinquentes e valentões, é uma sala de aula homogênea, que inclui nerds, líderes, esportistas e artistas. Todos naquela turma foram rebaixados de nível por não irem tão bem em alguma matéria específica ou descumprirem alguma regra da rígida escola. O líder deles,Yuma Isogai, por exemplo, é um simpático, gentil e quase perfeito adolescente. Expert em estudos sociais, o estudante tem apenas uma fraqueza: vem de família pobre. Por isso, trabalha clandestinamente para ajudar na renda de casa, e como no Japão é proibido trabalhar com idade inferior à adulta, ele recebe uma advertência e é rebaixado para a tal turma. Apelidada de Classe E, ela está localizada no antigo edifício do colégio, afastada em uma longínqua floresta, sem condições necessárias para estudar. Carteiras podres, portas com teias de aranha e grama na altura do joelho são pequenos detalhes que comprovam este desprezo.
Fonte: ptanime.com |
E você deve estar se perguntando: por que a escola possui esses alunos e, principalmente, o motivo do polvo amarelo ET ter optado por essa sala. Bem, em relação à primeira dúvida, o tirano diretor do colégio, que possui uma história obscura e que sempre almeja uma utopia educacional, faz com que uma parcela mínima de seu corpo estudantil seja mostrada como o fracasso educacional a ponto de que os alunos pertencentes às salas A, B, C e D, sintam medo e ojeriza de irem para lá no próximo ano caso as notas não melhorem. Um sistema de castas obscuro e humilhante, e que não necessariamente exemplifique apenas alunos ruins ou malvados. Ao decorrer do próprio enredo, percebemos que os alunos mais intelectuais da turma A são bem mais desprezíveis e maldosos, apenas por terem o poder de estarem em uma colocação superior.
Quanto à segunda resposta, isso ainda é um mistério. Não dá para entender o motivo pelo qual o alien escolheu exatamente aquela galerinha desprivilegiada. E claro, o governo nipônico aceita a proposta ardilosa. Nesse um ano de prazo, os vinte e seis alunos recebem apoio total das forças militares e políticas japonesas para assassinarem o malfeitor. Contudo, é um segredo entre os altos escalões e a turma. Eles providenciam munição, armas e facas específicas para não machucar pessoas, apenas o amarelado. Com isso, um experiente matador das forças armadas torna-se o professor de educação física deles, ensinando técnicas de parkour, corrida e até mesmo tiro ao alvo. Uma sábia e perigosa assassina de aluguel vira a professora de inglês. Já o polvo, ganha um apelido de Koro-sensei (algo em japonês que remete a "que não se pode matar" e "professor") e fica responsável por ensinar todas as outras disciplinas.
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Para poder destruir a Lua, você deve ter percebido que Koro-sensei possui alguns poderes, certo? Além de poder voar, o grande problema está na super velocidade da criatura, que representa uma escala chamada Mach 20, mais rápida do que qualquer jato na superfície terrestre. Ao desenrolar da trama, outros poderes são apresentados: ele possui mensalmente uma espécie de ecdise, que como uma cobra ou cigarra, pode abandonar sua carcaça atual e trocá-la por uma ilesa. Caso esteja em seu ponto crítico, ele pode entrar num modo super defensivo onde vira uma bolha impenetrável e imóvel. E de acordo com as suas variações de humor, ele troca a cor de sua cara: quando está subestimando o adversário, ganha listras verdes, apaixonado, fica cor de rosa, fulo da vida, preto, e assim por diante.
Mas além da criatura enfadonha, o que chama mesmo a atenção na sala são os vinte e seis alunos, que posteriormente viram vinte e oito. O protagonista, Nagisa, que parece até de longe uma menina de cabelos azuis curtos, é o mais perspicaz e aquele que possui mais chances de matar o professor, justamente por ser também o mais simplório e fácil de passar despercebido. Atento às tentativas dos amigos, anota os detalhes que nota serem as fraquezas de seu tutor, como medo de passar vergonha em público, doces e revistas de pornografia (com humor a parte). Mas todos notamos que a maior fraqueza do próprio polvo não é o medo de nadar ou um ponto específico embaixo de seu coração, mas sim o amor que ele nutre pelos estudantes. Ele não deixa ninguém machucá-los ou feri-los, e se comporta como uma mamãe coruja que quer o melhor para eles.
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E isso é nítido nos meses consequentes, a tímida estudante Okuda desenvolve seu potencial com química, o inseguro Sugino aperfeiçoa seus dotes com basebol, o valentão Muramatsu aprende técnicas de economia doméstica e todos os outros se aprimoram como nunca antes. E o melhor é quando vilões externos, como o próprio diretor ou ex-soldados querem provar que podem matar o polvo sozinhos, contudo, acabam sendo superados pela turma E ou pelo próprio Koro-sensei, que não tem dó de acabar com quem não seja da sua sala. Se a existência do planeta não estivesse em risco, com certeza torceríamos para o laço entre alunos e professor continuar sendo afetivo e duradouro, em todos os capítulos torcemos por eles.
E é justamente este ponto que chama a atenção na saga: acabamos gostando do anti-herói ao ver que eles se preocupa com os estudantes. O passado dele já foi revelado na história japonesa, mas nem o anime e nem o mangá brasileiro (publicação bimestral da Panini, atualmente no volume 10) chegaram ao clímax. E por lá, teremos um anúncio no dia 23, e como o enredo está no final de fevereiro, deve ser o anúncio de conclusão e encerramento da obra. Eis uma chance de quem procura algo que faça rir, intrigar e se cativar por algo inesperado, não é um shounen comum, muito menos uma história bobinha, e sim uma discussão focada em dilemas do sistema efetivo de ensino, de superação vindo dos mais fracos e da força efetiva que um bom professor nos deixa para o resto da vida. Não custa nada trocar o seu livro do mês por um volume desta intrigante saga.
~Murilo/Mud
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