O primeiro show, a gente nunca esquece...

Poderia ser apenas mais uma postagem normal em meios às análises e resenhas no blog, mas desta vez, é algo maior. Ontem, dia 18 de Abril de 2015, eu e um dos coautores do Trilógicos, o Gustavo, enfim nos conhecemos e assistimos a um dos maiores shows de nossas vidas. No meu caso, ainda melhor, meu primeiro de (espero) muitos espetáculos musicais.

Eu e o ID

Are you ready?
A banda não poderia ser melhor. Minha história com o Imagine Dragons começou em meados de 2012/2013, quando escutei a música It's Time pela primeira vez. Com um bandolim rítmico e pegada medieval no fundo, me perguntei:que banda é essa que a rádio está tocando? Torcia para que a música voltasse até descobrir o nome do cantor, e um dia, enfim veio: Imagine Dragons. O nome novamente me ligou a outro fator da idade média, e resolvi investigar. Sabe aquele som diferente que você poderia ficar escutando o dia inteiro? Foi essa a minha sensação quando descobri Radioactive, Hear Me e tantas outras. Alguns meses depois, foi a vez de Demons estourar. Até então, eu sonhava em conseguir um CD deles, e tive a oportunidade durante um Amigo Secreto de Natal no meu antigo estágio. 

A relação foi se aprofundando, descobri Tiptoe, On Top Of The Wolrd (que meu irmão conhecia até antes, graças a um jogo de futebol no videogame) e tantas outras. E em 2014, eles anunciaram o primeiro show em território brasileiro. Fiquei feliz na hora, mas ao ver que era no Lollapalooza, me desanimei. Não poderia ir ao show, uma pena. E perdi o que, eles consideram até hoje o melhor show da trajetória ID. Mas a promessa deixada naquela ocasião tornaria a vingar: "com certeza voltaremos".

Após uma pausa, os rapazes (os três Daniel e o baixista Ben) retornaram com tudo em fevereiro deste ano, com o lançamento do segundo álbum. Depois de Night Visions, foi a vez de Smoke and Mirrors ocupar as paradas de sucesso. A primeira música liberada, I Bet My Life, se tornou hit em rádios e programas de TV. E as duas seguintes, Gold e Shots, não ficaram para trás. E o anúncio seguinte da turnê mundial foi o que me reacendeu a chance de assistir ao show mais épico do mundo. 

ENTRANDO NO ANHEMBI

Minha camiseta nova.
Seria meu primeiro, como falei antes. Nunca pude aproveitar de fato um show de qualquer gênero, exceto couvert artístico de barzinho. E eu precisava sentir a adrenalina e a energia transmitida pelo coro de vozes com uma mesma música ecoando. Comprei o ingresso, e junto da minha amiga Amanda, enfrentamos o Anhembi às duas da tarde de ontem. 

A fila, que achei que seria enorme, me enganou. Apenas dois fiscais pediam para jogarmos fora garrafinhas, guarda-chuvas e coisas que já sabíamos que não eram permitidas. A Amanda jogou o resto do desodorante a garrafa de água fora (detalhe para o gari que aproveitou e usou o finzinho do spray para se perfumar, haha, mas fato a parte). E passamos. Em seguida, uma fileira de organizadores pedia para mostrarmos os ingressos e a carteirinha de meia entrada. Pena ser o último ano que terei o direito, mas foi ótimo poder pagar apenas metade do valor caro do ingresso. Nem tentamos a premium por conta do valor.

E então apareceu uma pequena fila serpenteando entre alambrados e grades. Entramos nela e percebemos que no fim, era possível ver o palco ao longe, depois de uma revista dos funcionários do Anhembi. No caminho, mais alguns casos peculiares: uma mãe assustada para poder passar os ingresso à filha e tentando jogar a mochila para algumas pessoas na frente, uma quantidade considerável de lixo que incluía armação de sombrinhas, papel higiênico intacto, pacotes lotados de biscoito de polvilho, doces, bolachas, latinhas de cerveja e uma infinidade de garrafinhas. A revisão de itens dos organizadores foi um pouco fraca, sequer conferiram qualquer objeto mais escondido, foi meio fraca. Enfim, passamos.

E entramos na Arena Anhembi. Tivemos que pegar uma pulseirinha para poder consumir bebida alcoólica. Eu não bebo, mas tentamos ver se era algo customizado para shows, não rolou, mas deu o clima de estar em um festival. Ao lado direito, os banheiros químicos já formavam uma fila considerável. Food trucks já apresentavam o preço caro de sanduíches de cordeiro (R$17) e batatas-fritas em cone (R$12, puro óleo). Mas estávamos preparados para não passar fome. Levei uma Club Social, que comi lá pelas seis da tarde, e uma Wafer Passatempo, que nem consumi.

O palco e a grade
Outro item que quase tive de usar foi a capa de chuva, mas por sorte, os pingos que caíram 17h30 da tarde só assustaram um pouco, devido ao clima abafado de tarde de outono. Decidimos ficar sentados no chão pelo lado esquerdo, era mais vazio, próximo aos banheiros já construídos anteriormente no Anhembi e perto de restaurantes. Foi por lá que encontrei o Gustavo, e então, ficamos os três esperando o tempo passar. Papo vai, whatsapp vem, fotos e filmes, tudo para passar o tempo que nos ansiava a cada momento.

Eu e Amanda compramos também roupas oficiais do evento. A camiseta preta com as palavras IMAGINE em vários tons de cores neutras, e DRAGONS em cinza, custou R$80 (como não ia comer e estava preparado, comprei a oficial, não queria dar dinheiro aos ambulantes que vendiam uma camiseta qualquer por 10 pilas com uma estampa zoada). A Amanda preferiu um moleton cinza com a mesma escrita.

E então, a partir das seis e meia, o show começou a lotar. Lugares para sentar no chão já se tornavam mais limitados. Perto da grade, acompanhávamos a passagem de som, luz e os telões. A câmera do canal BIS desfocava e um dos painéis soltou um pedaço, sendo reparado de imediato. O palco, com uma mesa de DJ e um toldo preto atrás, indicava que a abertura escondia os instrumentos da banda, o que causou certo suspense. 

Nos divertimos na espera com os ambulantes e as figuras do show. Muitos fãs de sagas literárias nos causaram inveja, casacos de Harry Potter, camisetas de Jogos Vorazes, colares de Game of Thrones, todos em uma mesma sintonia no meio da larga multidão de camisetas pretas (me incluo nessa). Os ambulantes faziam de tudo para vender a batata-frita ou o X-burguer. Vou listar três que nos chamaram atenção. O primeiro vendia mini-churros, e ao ver que ninguém dava bola, tentou falar que eram do Chaves. Dez reais por três pedacinhos de churros não ia rolar, era melhor ter comprado a camiseta do tiozinho do lado de fora. O segundo foi o vendedor de capa de chuva. Mais uma vez, o preço de dez reais, o Gustavo chegou a comprar uma quando caíram os pingos, mas o vendedor não tinha nem noção do público que queria atender, enfatizava a palavra Dragons como se fosse algo dito por alguém bêbado, nem sabendo falar Imagine, foi cômico novamente. E por fim, os vendedores com camisetas alaranjadas oficiais dos bares, um deles pulou a grade e foi vender para a galera encostada a ela. Ao descobrir que uma das meninas era solteira, fez questão de montar uma fila de pretendentes. Pena que não rolou, mas valeu o esforço pela graça.

"BANDA" DE ABERTURA

Às 19h, quando o Sol nos deu seu adeus e o negrume da noite tomou conta dos 14 mil até então presentes (aumentou muito depois das oito, não dava para ir para trás nem para frente, o que gerou raiva da gente pelo povo que passava toda hora para ir ao banheiro). Foi a vez de trocarem as faixas até então boas de fundo, que incluíam, Linkin Park, Rolling Stones e U2, pelo DJ de abertura, Gabriel Boni. Ele quebrou o tabu da galera, que pensava ser algo do estilo NXZero ou Magic!. E o cara começou a tocar.

A música de abertura foi um estouro, devo admitir. We Will Rock You, com uma luz ofuscante azul, foi uma ótima escolha. Só que depois... a coisa desandou. Não rolou, sério. O DJ tentava alegrar a galera, que com razão, ignorava-o. Músicas desconhecidas e remixes estranhos. Uma nacional falando do amor de SP. Reconheci uma do Sam Smith que nem parecia dele, outra era Sail do Awolnation e Summertime Sadness da Lana Del Rey. E nenhuma empolgou tanto quanto a primeira.

A resposta do público foi negativa. "Vocês estão bem?", perguntava o DJ, tentando convencer alguém. O coro de "Nãaaaao", foi insuficiente. Toda hora ele tirava foto e o assistente tentava animar a galera. E não dava certo. A pista premium tentou ser mais animada, dançava, acendia luzes do celular, mas a pista normal não perdoou. Só levantaram a mão, como disse um comentário brilhante do Facebook, quando a bombeira passou a distribuir água de graça. E o coro de animação foi mais pelo câmera do BIS, que enfim conseguiu ajustar a câmera e focar no rapaz, e quando ele errava, voltavam a gritar, a maioria rindo. Alguém chegou a ser expulso da multidão mais ao canto por policiais, foi o último momento de animação.

O sono chegou a tomar conta do pessoal. Comprei minha primeira água aí, esperando o tempo passar. O calor me fazia suar, mas um vento gelado sempre vinha na hora certa. E enfim, Boni terminou com uma música qualquer e a galera aplaudiu, mais por respeito e agradecimento por ele ter ido embora do que pelo show propriamente dito. Enfim. O toldo preto foi retirado e era a hora do verdadeiro show, depois de meia hora e uma contagem regressiva frustrada à lá Ano Novo da galera da pista central.

O MELHOR SHOW
I love you, Brazil!
Começou. O show teve início às 21h03 com Shots, minha favorita do novo álbum. O quinteto (que inclui o tecladista Will, agora), subiu com energia e falando frases "I love São Paulo" e "Thudho bem?" O delírio do público se instaurou. A maioria sabia cantar a música inicial, e o naipe do show prometia. A pausa seguinte me fez arrepiar, foi a parte em que mais senti a vibe daquela plateia, o começo de Trouble, minha segunda favorita, coincidentemente. E foi no final que Dan, o vocalista, pegou a bandeira do Brasil. Pendurando no pedestal do microfone, começou o coro do primeiro sucesso do antigo CD, It's Time. 

Logo em seguida, fez declarações de amor ao Brasil, e cantou um cover de Alphaville, Forever Young. Muitos não conheciam a música e foi a menos empolgante. Smoke and Mirrors cumpriu seu papel com um solo de guitarra do Wayne no final que foi sensacional. O hit seguinte foi Polaroid, que puxou um "Oooo" vociferado por vozes que até mesmo nem conheciam a música. Na minha opinião, foi o segundo jogo de luzes mais bonito, os filetes que pareciam estrelas cadentes em tons pastéis e neons formavam uma sintonia interessante com o ritmo da melodia rápida. 

Reymonds apresentou a banda logo depois. Zoou com Wayne pelo cabelo e pela beleza, dizendo que era um pacote completo. Ben, o baixista, arriscou passos de samba. Platzman, o baterista, e Will, o tecladista, foram aplaudidos exaustivamente. E aí veio um momento que deu raiva. Dan dizia que todos eram parte de uma família e que queria ver a cara da galera. Mas os iluminadores não entendiam, não sei se alguém não falava inglês lá, sei lá, mas o vocalista pediu três vezes "Light up", e o público "Acende a droga da luz, tio". 

Depois de se emocionar, voltaram com outro sucesso, que é o single da nova temporada de Orange is the New Black, I'm So Sorry. Acho que foi uma das mais "pulantes", o público parecia pipoca na panela em fogo alto. Summer, a canção seguinte, é um das que menos gosto, mas acalmou o povo. E logo em seguida, foi a hora das promessas de se mudar para cá, porque eles gostam da nossa comida, das nossas mulheres, temos o povo mais humilde e bonito, enfim, incrível.

O palco mas bonito e iluminado ficou por conta de Gold. Luzes apontadas para o céu, o dourado dos painéis verticais em conjunto com as bexigas soltadas pelo fã-clube formaram uma bela paisagem. Os fãs de Night Visions tiveram uma sortezinha no pout-pourri consequente. Bleeding Out e Monster foram os destaques à capela. E Warriors, para os amantes de LOL ou da última faixa do álbum, cantaram a plenos pulmões o refrão.

Sem tempo para respirar, foi a vez de Demons, outro hit famoso, o mais tocado em rádios brasileira e líder em rankings de sites de cifras. Dan se emocionou com o coro, deixando o final do primeiro refrão para a segunda passagem em um pequeno silêncio de apreciação. E para completar, as pessoas gritaram: We Love You, recebendo um I love you too como respostas. O nome dos dragões se repetiu inúmeras vezes até começar Dream. A mais singela e relaxante, emocionou alguns casais ao redor da pista normal.
Toco violão, guitarra e bandolim, querem mais?
A música seguinte, Hopeless Opus, até que estava na ponta da língua dos presentes, algo que não havia imaginado. O solo de guitarra do Wayne novamente impressionou. A Amanda, quando percebi, já estava umas quatro pessoas na minha frente, então eu e o Gustavo ficamos perdidos, mais para trás, mesmo assim deu certo acompanhar a canção. A calmaria voltou em release, onde a palavra "down" foi ressoada por 21 mil vozes. 

E o show chegava ao seu fim. Percebi que todas as fotos e vídeos que tinha feito ficaram embaçadas, me senti o câmera do BIS, que agora fazia um bom trabalho ao menos com o show principal. Aliás, assisti à gravação hoje cedo, ficaram de parabéns mesmo, não erraram nenhuma informação e a imagem estava perfeita, o som da plateia foi ouvido e quem viu em casa pôde sentir a emoção do show (digo pela minha família). 

Nas cinco últimas músicas, surpresas não faltaram. O baterista arrebentou, foi a vez dele brilhar após não participar de release. Foi a vez de On Top of The World tomar conta das pistas, que continuaram à capela o tradicional "Ooooooh", típico da música. Friction foi outra surpresa, o rock mais pesado do grupo, semelhante a um metal, teve muito braço para cima e pé fora do chão. A iluminação ganhou destaque de novo. Dan tomou novamente as rédeas e disse que queria se mudar para cá. Se não me falha a memória, o pai dele viveu alguns anos aqui, por isso talvez ele quisesse voltar. E pediu obrigado por cada um que acampou na fila, esperou o momento e tudo mais. O solinho emocionante de I Bet My Life, música também criada com inspiração em seu pai, permitiu essa aproximação entre SP e ID. 

Para novamente surpresa geral, não faltava apenas uma música, a mais esperada. Dan cantou Amsterdã e só então, começaram com Radioactive. Fecharam com chave de ouro, tambores, luzes vermelhas, holofotes em feixes brancos, plateia animada jogando pulseirinhas de neon para frente, e a mais filmada de todas, com certeza. As luzes se apagaram.

O fim? Ainda não. Voltaram o para o BIS, igual nos outros três shows anteriores, com The Fall. Perfeita para fechar o espetáculo, com calma e força ao mesmo tempo. Os cinco se abraçaram e se reverenciaram para seu amado público, como diria Dan, "os melhores fãs do mundo, mesmo todos dizendo isso, vocês sabem que a gente fala a verdade". E o melhor veio em seguida: "Voltaremos no ano que vem".

Pronto. Foi o suficiente para deixar o torpor daquela multidão ainda maior, a adrenalina ainda melhor. Erros? Não apontaria nada além do que já foi dito, mas senti falta sim de duas músicas. A primeira, Tiptoe, não está inclusa na turnê e é compreensível. Mas no Chile e na Argentina, It Comes Back to You, uma grande música com refrão fácil, foi esquecida. Mas nada que atrapalhasse a minha alegria.

Palco durante Dream
Voltei para casa tarde, após comprar outra água na saída, ir até uma doceria 24 horas para comer alguma coisa e beber mais duas garrafas. O instante em que sentei, me fez sentir cada osso do corpo podre. O suor coçando a minha cabeça. Os sapatos e meias agarrados prometiam bolhas na manhã de domingo. Mas nem liguei. Valeu cada dor, centavo, segundo. Eu quero estar lá nos próximos anos, quero que meus filhos saibam que esses caras foram os responsáveis por uma das noites mais incríveis de minha vida. Quero que eles venham comigo para shows deste tipo, como muitas famílias fizeram. E eu mesmo pretendo aproveitar essa sensação mais vezes. Digo mais, daqui a nove dias, eu e o Gustavo teremos outra experiência à altura, com o cantor Ed Sheeran, no Espaço das Américas (escreverei aqui também).

Posso parecer um pirralho de catorze anos iludido com a banda ou com o poder que vivenciei naquela arena durante duas horas e meia. Mas não perco a essência de minhas vontades, gostos, e amadureço com isso. I bet my life, and I will bet more times.

~Murilo/Mud

*Algumas imagens foram retiradas do Facebook do Imagine Dragons Brasil, G1 e R7, créditos totais a eles. Como disse, as minhas ficaram zoadinhas e os vídeos tinham minha voz de taquara rachada.

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